Grafite é arte?
Sim. A capacidade de transformar os ambientes urbanos confere ao grafite a força expressiva e comunicativa que o coloca entre as artes mais populares e difundidas entre os jovens, hoje em dia. Tecnicamente, o grafite é uma espécie de instalação, às vezes performática, cujo pano de fundo é a cidade. Trabalhos noturnos, pinturas em locais com grande circulação de pedestres e carros, rápidas intervenções em locais de difícil acesso são exemplos da variedade de condições de trabalho a que estão sujeitos os autores das obras que vemos espalhadas por aí.
Além das técnicas de pintura com spray, a escolha do local também faz parte dos atributos do artista, pois o importante num grafite é dialogar com a população sobre o pedaço de cidade que se vê a partir da intervenção. Vários suportes são utilizados como muros, becos, vagões de trens e paredes cegas de edifícios, geralmente partes de paisagens deterioradas ou opressoras, que são, então, parcialmente ‘recuperadas’ pelo grafite ali exposto. Isso é feito através das pequenas e sugestivas intervenções até as grandes pieces, em que trabalham vários grafiteiros em conjunto.
Mesmo que já tenha sido parcialmente aceito pelas comunidades e autoridades dos centros urbanos mais esclarecidos, o grafite ainda é uma manifestação caracteristicamente subversiva, tanto no sentido artístico quanto no legal. Pois a liberdade de escolha do local em que se dará a intervenção não se pauta pela conveniência e sim, pelo impacto comunicativo e expressivo pretendido pelo artista, o que, muitas vezes, o leva de encontro ao proibido.
É essa liberdade e subversão que torna o grafite uma arte renovadora e atual. Naturalmente independente do mercado de arte estabelecido, acaba por injetar ar fresco nas discussões já saturadas de academicismos que têm norteado as artes plásticas, hoje em dia. E implementa maior vigor no contato entre obra e público. Desde os tempos em que os afrescos das igrejas formavam uma iconografia popular e acessível a todos, a pintura e o desenho não estão tão próximos de seus admiradores mais humildes.
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