Por que os skatistas gostam tanto de atrapalhar o trânsito?
O skate é uma atividade tipicamente urbana. A urbanização ‘moderna’, que pavimenta excessivamente o solo das grandes cidades, que privilegia o bem estar do motorista em detrimento do pedestre, que cede cada vez mais espaço para a construção e a especulação imobiliárias, cria ambientes que se tornam verdadeiros parques de diversão a céu aberto para os skatistas.
O que faz um estacionamento, uma ladeira, uma calçada, um pátio ou uma praça se tornarem um ótimo espaço para a prática do skate? Basta que não tenham muitos jardins, que não sejam confortáveis o suficiente para acolher crianças e idosos ou que estejam abandonados, deteriorados, decadentes... Preenchidos os requisitos, pode-se contar com a ocupação mais que providencial desse espaço por grafiteiros, bikers, skatistas etc, prontos para ‘reurbanizá-los’ ao seu gosto, claro. Não se trata apenas de propor uma alternativa para a ‘falta de espaços propícios para o lazer’, essa é uma forma de ativismo comunitário pop, bem característico das novas gerações.
Existe uma percepção generalizada entre os skatistas, de que a reocupação da sua cidade é uma atitude ideológica. De que, com isso, estão recuperando o espaço perdido para as grandes construtoras e outros agentes que querem se aproveitar do ‘caos urbano’ para se beneficiarem. Existe mesmo essa visão política da situação e ela é promovida permanentemente pela imprensa especializada que não cansa de enaltecer o skate que se pratica nas ruas. As revistas de skate estão sempre repletas de imagens nas quais o skatista aparece pulando escadas, escorregando por corrimões, guard-rails, bancos de praça, guias de calçada ou ‘criando novos obstáculos com restos de cidade’.
Mesmo que o esporte tenha se desenvolvido muito, tecnicamente, nos últimos anos; mesmo que os campeonatos estejam cada vez mais organizados e com premiações mais ricas; mesmo que se tenham construído milhares de pistas de todos os tamanhos e formatos, ao redor do mundo... a rua continua sendo a ‘base’, o ‘fundamento’, a ‘escola’, até para os mais bem sucedidos atletas profissionais, que sempre fazem questão de confirmar as suas origens ‘streeteiras’, a sua ‘atitude street’, o seu ‘street style’, ou seja, uma certa postura político-estético-ideológica, sem a qual o skatista seria desprezado pela comunidade. Do mesmo modo que eram desprezados os ‘alienados das discotecas’ pelos ‘jovens politizados’ dos anos ’70.
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