Skate não é só um esporte?
Ao longo do tempo, o skate se tornou mais que uma simples modalidade esportiva. Criou-se uma aura político-cultural ao redor de atletas, imprensa especializada, empresários do segmento e outros simpatizantes: todos formando uma comunidade relativamente unida entorno de um ‘esporte independente’. O esforço para manter essa tal independência rendeu ao skate, por exemplo, uma valorizada auto-suficiência no suprimento de materiais esportivos e na comunicação de informações sobre si mesmo. Ou seja, o skate não precisa seguir as leis de mercado impostas pelas nikes, adidas e reebocks da vida, nem forjar o seu sucesso nas ABCs, NBCs e Sportvs por aí.
Só foi possível atingir esse estágio de autonomia em relação ao grande mercado, devido a um novo tipo de ativismo que o jovem aprendeu a praticar: o comportamento de consumo engajado. Há uma sinergia especial entre consumidores, imprensa e marcas especializadas: todos estão comprometidos com as mesmas causas. As marcas ‘entram’ com o seu empenho na promoção, patrocínio e difusão da causa e o consumidor lhes retribui com fidelidade. Com isso, mesmo marcas de poucos recursos são alavancadas ao sucesso, enquanto outras poderosas são deixadas de lado por um consumidor predeterminado e sempre muito bem informado.
Um caso arquetípico desse engajamento foi o do skatista Bob Burnquist, atleta brasileiro, ícone do skate atual. Em 2000, esse profissional, então tido como um dos ‘melhores do mundo’, recusou o patrocínio da Nike por não considerá-la uma marca ‘autenticamente skate’. Preferiu manter-se associado à marcas menores, que mesmo não lhe rendendo tantos dividendos imediatos, sustentariam a sua imagem de ‘skatista de verdade’, desses em quem cabe bem a tatuagem com o logotipo de uma das marcas que o patrocinou no início de carreira! Aliás, não é nada incomum encontrar vários desses logotipos ou palavras de ordem do tipo “skate or die”, “skate até a morte”, “skate is not a crime” etc. tatuados em skatistas amadores, iniciantes ou mesmo simples simpatizantes da cultura skate. Atitudes tão ‘extremas’ deixam claro o grau de devoção com que se trata um ‘simples esporte’.
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