Qual a diferença entre grafite e pixação?
“O termo pixação denota uma atividade energética e desprovida de preocupações estéticas, onde conta mais a ação do que a beleza; enquanto o que se generalizou chamar de grafite, são os afrescos mais elaborados plasticamente”. Também se costuma associar a pixação ao vandalismo inconseqüente, em oposição aos grafites, que seriam obras de arte, realizadas com autorização e competência. Numa visão um pouco menos simplista, a linha que divide arte e vandalismo não é assim tão definida. Eu, por exemplo, prefiro ignorar a possível diferença, pois acho que é apenas retórica. Mas, em geral, a qualidade estética dos trabalhos (ou dos garranchos) espalhados pelos muros das grandes cidades é o critério subjetivo que as distingue.
A pixação é uma forma de comunicação marginal, cultuada por estudantes do mundo inteiro, durante os anos '60 e '70. No Brasil, durante esses anos, conquistou uma certa simpatia e legitimidade, ao se tornar um meio de protesto político, num período em que a ditadura se tornava cada vez mais repressora e hostil com qualquer tipo de liberdade de expressão. Rabiscar frases como ‘Abaixo a ditadura’, ‘Abaixo a repressão’, ‘O povo unido jamais será vencido’, ‘Fora CCC’... era uma das únicas maneiras de reclamar publicamente do 'estado de coisas' em que nos encontrávamos. A partir dos anos ‘80, a pixação perdeu o seu status 'simpático e legítimo', mas não deixou de ser um veículo de forte impacto comunicativo e um meio de expressão com grande apelo lúdico, especialmente atraente ao jovem pelo seu caráter ilícito.
O grafite que se pratica hoje ainda carrega consigo algo dessa energia contestatória, do espírito subversivo herdado dos antigos movimentos estudantis. Manteve sua aura política se associando ao Hip Hop e 'combatendo as injustiças sofridas pela população de excluídos da periferia'. Mas, além disso, desenvolveu-se esteticamente. Atualmente existem trabalhos muito sofisticados, produções artísticas de qualidade estética inquestionável, dotando cidades como São Paulo, Tóquio, New York, Barcelona, Berlim, Santiago etc. de uma identidade cosmopolita, internacionalizada, cool, que não teriam sem essas interferências plásticas urbanas.
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